quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Domingo, 2 de Outubro


O sol da tarde aquecia-lhe o quarto, as janelas fechadas para não baterem com o vento que é a única coisa que agita o Domingo. Os papéis espraiados na cama, assim como um livro e o computador portátil estão nesta estufa improvisada à espera de ser usados, de terem palavras que possam ser partilhadas com mais alguém.
Ao fundo, na sala, ouve-se o bater de um teclado abafado, ali trabalha-se, a pressão ao instalar-se faz outro monte de folhas movimentar-se e as teclas desse outro computador terem uso.
Na estufa as letras não crescem, quer dizer... Crescem mas não no sentido que ele lhes queria dar, já na sala estas multiplicam-se, a actividade da casa foi toda para lá, ignora-se tudo o que não traga proveito à dinâmica. O local solarengo propício ao crescimento é suplantado pelo sombrio em matéria de criatividade. As ideias gostarão mais de portadas fechadas? Serão mais férteis assim? Ou será que secam com tanto sol?
Já é fim de tarde, já vai baixo! A temperatura não dá para isso!
O que é certo é que num lado germina conhecimento e noutro palavras que talvez nem para entretenimento sirvam...
Ou será que Domingo não é bom dia para cultivar palavras? Não... nunca se ouviu tal disparate! Não tem que ver com luas, marés, dias da semana ou mês... O mal é mesmo em que está, ou pelo menos, a tentar escrever!
As palavras da estufa são daninhas, cresceram no terreno folha de papel não se sabe muito bem como, as da sombra já são plantadas e esperam-se bons frutos delas.
O sol deitou-se atrás do monte de grés vermelho, ainda se notam os raios e a aura da estrela mais próxima de nós. As cores esbatem-se à excepção daquele vermelho forte da pedra que domina a vista da janela. No interior a luminosidade das divisões da casa vai-se assemelhando, assim como os ritmos. Terá a seiva das palavras começado a correr da mesma forma?
Cansado, abandona a estufa e o terreno folha de papel, frustrado com a colheita, pousa o condutor de seiva que é o lápis e vai para o fundo da sala unir-se à dinâmica que lá circula.

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