segunda-feira, 7 de abril de 2008

Casa


Este singelo edifício podia ser palco de um romance, tal como foi a casa de Joaninha e sua avó em Viagens na Minha Terra de Almeida Garrett ou tantas outras pequenas casinhas que povoam a nossa literatura. A sua simplicidade aliada ao enquadramento onde se encontra tornam impossível não criarmos nós a sua estória. Não digo que envolva Liberais e absolutistas, até acho que essa temática está mais que batida, mas imagino pessoas cuja luta era a obtenção do seu parco salário para sobreviver nos difíceis inícios/meados de século XX, possivelmente contaminada pelos ideais bolcheviques, como lhes chamavam os nossos governantes, que secretamente se iam disseminando mesmo entre a grande mole analfabeta da nossa população.
Estão aqui alguns ingredientes, mas da mesma maneira que soltei estas ideias podia ter-me ocorrido algo mais bucólico e menos político, mais centrado na vida rural, nos amores e desamores dos seus habitantes, uma panóplia de situações possíveis na São Bartolomeu de Messines rural do século passado.

Vindo do trabalho José depara-se com a sua porta entreaberta, entra e vê Julia a chorar, a casa voltada do avesso.
-Que se passou? Pergunta ele.
Julia responde -Não sei, só me perguntaram pelos papéis, respondi-lhes quais papéis, os documentos?
- Não os panfletos comunas que o teu maridinho costuma distribuir, foi o que me reponderam, agora pergunto eu o que se passa?
- Nada! retorquiu José com as mãos na cabeça a tentar encontrar alguma razão.
A razão tinha sido a discussão com um vizinho por causa de uns marcos no terreno e o outro cobarde que pelos vistos era bufo foi inventar que José estava envovido com os corticeiros de Silves e trazia propaganda comunista para distribuir em Messines.