sábado, 26 de novembro de 2011

16h30- Novembro

Os raios do fim da tarde, antes mesmo da noite prematura, aquecem os corpos que se expõem, não lhes dá muito calor, mas o suficiente para contemplar a descida do sol e o dourar das árvores.
Prematuramente anoitece e as horas de luz terminam. Os dias de sol de Novembro são como que dias para não congelar, uma amostra de actividade primaveril, só que encurtada às dezassete e trinta!  
Também sentimos um abreviar da nossa actividade, a necessidade de recolher antes do frio se apoderar dos corpos. Entretanto há que fruir do dourar de tudo o que nos rodeia e acumular calor para mais dias com noites prematuras.


Escrito em Novembro de 2008 num fim de tarde à janela a aproveitar o calor do sol.



sábado, 15 de outubro de 2011

Sábado, 15 de Outubro

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Sou de uma cidade em morte lenta há décadas, num país que também não reanima e tem cada vez mais silenciosas convulsões. A minha região tem sido desfigurada pela corrupção e ganância, aquele par inseparável! Até a própria língua é desrespeitada a nível oficial e por exigência estatal!


Sendo relativamente jovem assisti só a parte do longo processo, mas já pago por ele, como infelizmente sei que os mais novos terão um débito ainda maior por tudo isto.


A irresponsabilidade política e social dura há quase quatro décadas, primeiro acusou-se o regime autoritário, felizmente esse terminou, mas a democracia que passamos a ter possibilidade de escolher nunca tem estado à altura das exigências. Sinais do bipartidarismo que tem pautado as governações.


O país precisa mesmo de uma mudança de mentalidade, não só governativa, mas de todos, é aprender a falar menos do dia de Abril e tornarmo-nos cidadãos a sério, é termos não só direitos mas também deveres, valorizarmo-nos, ter uma participação mais activa e de alguma forma responder às carências. Não o fazemos de forma triunfal, vai de outra maneira, desde que o contributo seja dado já é um passo. A mais pequena acção de sensibilização, umas linhas, uma conversa são uma ajuda. A cidadania e participação nunca foram tão importantes como agora na época conturbada que vivemos. Se metade daquela metade que não votou pensasse assim estaríamos bem melhor! É claro que a ambição seria que a grande maioria dos recenseados fosse às urnas, mas temos que ser realistas e ter a noção de que se ocorrer uma mudança esta será gradual e levará tempo, isto com a esperança de que no futuro a coisa melhorará, mas isso só o saberemos com a passagem do tempo.


Mas o que este cidadão perto dos 30 anos procura é expressar os seus anseios e perspectivas sobre o que o rodeia. Portugal tem pela terceira vez a necessidade de recorrer a ajuda externa para se financiar desta vez de forma muito mais assustadora que as duas anteriores. O desinvestimento no sector cultural já se fazia sentir há algum tempo mas com a chegada do actual governo, a situação económica global e sobretudo a falta de visão, terminou-se com o Ministério da Cultura. Agora temos apenas um Secretário de Estado da Cultura que trabalha na directa dependência do Primeiro Ministro, estranho, não é? Não acredito que sem o órgão central de coordenação da actividade cultural consigamos manter uma política decente de gestão e programação cultural, assim como a gestão e intervenção no património. Seria um aspecto a potenciar para auxiliar o país e não um sector de desinvestimento...


Como formado precisamente na área de Património Cultural entristece-me sermos passados para trás em concursos por não termos a denominação História no curso, não interessa a competência, a qualidade geral do pessoal docente e da estrutura curricular, muitas vezes superior aos tradicionais cursos de História nas suas diversas variantes. Uma situação a rever...


Outro ponto muito negativo é aquele que eu chamo a muleta do voluntariado, geralmente estão todos à espera que os trabalhos e investigações sejam gratuitos ou por um preço simbólico. Quando vai a uma consulta médica não paga? A precariedade, nem sei se vale a pena abordar com profundidade, pois é transversal a todo o mercado de trabalho e já muito foi dito, o Estado não dá exemplo, tendo pessoas anos a fio nessa condição.


Mais uma grande maleita são as pessoas não qualificadas que ocupam postos de trabalho indevidos e aquela espécie que só quer que chegue o fim do mês, promove-se assim a incompetência e deixa-se pouco espaço a quem tem juventude, vontade e competência. Há necessidade de renovação e actualização de quadros na área cultural, é um sector estratégico onde temos possibilidade de ser referência e mostrar qualidade, temos que mudar alguns paradigmas e preconceitos. Há uma geração capaz de mostrar isso à espera de oportunidades que aconselho seriamente a não desperdiçar e apostar forte nela. Pode ser que assim as cidades que morrem lentamente há décadas sejam pontos de renovação e dinamismo, a afirmação daquilo que somos capazes de fazer.





Quinta-feira, 13 de Outubro de 2011

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Domingo, 2 de Outubro


O sol da tarde aquecia-lhe o quarto, as janelas fechadas para não baterem com o vento que é a única coisa que agita o Domingo. Os papéis espraiados na cama, assim como um livro e o computador portátil estão nesta estufa improvisada à espera de ser usados, de terem palavras que possam ser partilhadas com mais alguém.
Ao fundo, na sala, ouve-se o bater de um teclado abafado, ali trabalha-se, a pressão ao instalar-se faz outro monte de folhas movimentar-se e as teclas desse outro computador terem uso.
Na estufa as letras não crescem, quer dizer... Crescem mas não no sentido que ele lhes queria dar, já na sala estas multiplicam-se, a actividade da casa foi toda para lá, ignora-se tudo o que não traga proveito à dinâmica. O local solarengo propício ao crescimento é suplantado pelo sombrio em matéria de criatividade. As ideias gostarão mais de portadas fechadas? Serão mais férteis assim? Ou será que secam com tanto sol?
Já é fim de tarde, já vai baixo! A temperatura não dá para isso!
O que é certo é que num lado germina conhecimento e noutro palavras que talvez nem para entretenimento sirvam...
Ou será que Domingo não é bom dia para cultivar palavras? Não... nunca se ouviu tal disparate! Não tem que ver com luas, marés, dias da semana ou mês... O mal é mesmo em que está, ou pelo menos, a tentar escrever!
As palavras da estufa são daninhas, cresceram no terreno folha de papel não se sabe muito bem como, as da sombra já são plantadas e esperam-se bons frutos delas.
O sol deitou-se atrás do monte de grés vermelho, ainda se notam os raios e a aura da estrela mais próxima de nós. As cores esbatem-se à excepção daquele vermelho forte da pedra que domina a vista da janela. No interior a luminosidade das divisões da casa vai-se assemelhando, assim como os ritmos. Terá a seiva das palavras começado a correr da mesma forma?
Cansado, abandona a estufa e o terreno folha de papel, frustrado com a colheita, pousa o condutor de seiva que é o lápis e vai para o fundo da sala unir-se à dinâmica que lá circula.